Os
Beijos têm Vidas?
Agora
que estou prestes a ir, deparei-me com uma verdade que antes nunca tinha me
afrontado:
Os
beijos têm vidas!
São
espécies de anjos e demônios que nos acompanharam durante as existências.
Nossa
senilidade não nos impede de lembrarmos.
Lembrarei
com auxílio da trôpega memoria, que se reaviva com o teu perfume, não, perfume,
não, o teu inebriante cheiro.
Uma
corrente de incontáveis voltes percorreu meu corpo quando a pele de teu lábio, com
o toque, dominou minha alma.
Daquele
momento percebi que depois de oceanos de tempos que tivemos que percorrer, havíamos
nos encontrado.
Um
beijo-raio, talvez o raio de Zeus,
ligou nossos espíritos.
O
que parecia impossível tornou-se realidade. A eletricidade que passou por
nossos corpos os magnetizou ao ponto de torná-los verdadeiros buracos negros de
onde nem mesmo a luz teria fuga provável.
Dois
abissais buracos negros que procuravam se confundir no espaço universal, não
importando para isso a distância ou o tempo.
Lembras a distância e o tempo que nos distanciamos
entre aquelas estações? Àquele tempo não
se comparou nem a um milésimo de segundo com os espaços que tivemos que
percorrer à velocidade da luz até nos encontrarmos pelo beijo-raio.
O
magnetismo, de maneira improvável, nos uniu novamente.
E, agora, o beijo desespero nos acompanhou em
uma extasiante atração de corpos.
Cheiros
a muito esquecidos em vidas pretéritas voltaram a existir.
Toques
que tinham sido aprisionados pelo tempo e pela morte foram renascidos.
O Véu do teu cabelo e que ainda é teu cabelo
me envolvia como serpentes, como correntes das sereias mitológicas. Como cabelos
que se transformavam em mãos de amazonas que domina selvagemente seu corcel em
um galope efusivo. Uma maratona de prazer.
Perdi-me
de tal forma no domínio do beijo-desespero
que não entendia como este beijo poderia nascer ali, naquele momento e naquele
espaço.
Hoje entendo sua razão de existir.
Se nascimento residia no medo.
O medo de nunca
mais poder ter tocar, sentir, cheirar.
Não
tínhamos certeza de que nossas almas ainda teriam outra oportunidade de um novo
encontro.
Elas cravaram suas unhas umas nas outras ao ponto de suas estruturas serem,
momentaneamente, comprometidas.
Suas
claridades se confundiram na escuridão.
Outros espíritos correram para junto de nós a
fim de presenciarem tamanha produção de energia.
Alguns até reviveram velhos sentimentos
influenciados pela torrente de emoções que acompanham os rios de nossas almas.
Mergulharam na corrente e sentiram-se mais uma vez vivos.
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