sábado, 31 de janeiro de 2015

INSANIDADE



Insanidade
Ele vivia uma instabilidade.
Já não acreditava que depois de décadas pudesse ter um comportamento tão inconsequente. Mas quem pode dizer o que é e o que não é inconsequente? Quem pode prever com segurança o futuro? É isso! Prever o futuro! Pois seu entendimento do que seja consequente, aplicado de maneira inconteste, só pode ser feito, no que se refere ao assunto em questão, com base na mágica de se dizer o que vai ser do futuro.
Ele sabia que não acreditava na sua própria teoria. Não acreditava mesmo. O pensamento que lhe acompanhava os pensamentos, nas primeiras visões do claro do dia, lhe condenava.
Ele sabia que é mais fácil viver com a culpa quando não se tem acusadores. Quando não existe justiça. Quando não existe padrão nenhum de cobrança. Mas há! Na sua cabeça havia um palácio da justiça instituído. Ele era condenado todos os dias. Não havia defesa para seu caso.
                Um corredor escuro lhe aguardava. Uma cela fria onde ainda se podia ouvir os últimos pensamentos de seu derradeiro ocupante.
                O vislumbre de tal desfecho era ofuscado pela presença física de sua culpa.
O irracional tomava as rédeas de sua carruagem que servia de ligação entre o infeliz e o feliz.
Ele sabia que o muito que importava, hoje, já não tem tanta importância. Os padrões haviam sido quebrados. As regras tornaram-se inexistentes.
A nova existência é não ter mais regras.
Encontrava-se perdido! As algemas poderiam lhe dar o conforto da punição. Permitir-lhe dormir sem acusações. Sorrir para o passado e acreditar na Justiça do futuro.

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