Contei o tempo digitalmente analógico com doses inebriantes de serotonina e endorfina.
Cheiro de alheia nicotina misturava-se com o tabaco sem vida.
Olhos vidrados pelo torpor alcóolico magnetizadamente orbitavam sob a gravitação de algumas esferas de apagadas cores.
Temia que a ampulheta deixasse cair o derradeiro grão de areia.
Temia que a brisa suave de seu chamado não movimenta-se as moléculas que alcançavam meus ouvidos.
Intensamente vivi os instantes.
Angustiadamente os minutos.
Com sofreguidão os segundos... Os milésimos de segundos. Puro frenesi.
Chegou o tempo do chamado.
Era sabido que ele não viria.
Algum contratempo se encarregaria de impedi-lo. Nem por aprofundei-me no veneno do absinto. Bordas brancas testemunhavam a letargia de sua correnteza.
O calor do recipiente contrastava com o frio molhado do momento.
Quando tentava reviver os passados segundos... Buscando, ainda, sentir o cheiro que a brisa havia levado... Ouvi!!!
Arritimado ficou e, como corcel indomado, disparou por pradarias desconhecidas e brilhantemente conservadas.
Sinto-me, ainda, passageiro de galopes aéreos, como Pégaso’s incrustados em meu corpo.
Um Silvo longo e suave me impeliu ao teu encontro.
Abandonei minha derradeira companhia. Ela já estava esvaziada, translúcida, eu podia perceber.
Sua borda guardava lembrança de meu último beijo.
O desconhecido me aguardava e, como um buraco negro, uma curva no espaço que dele nada escapa, nem mesmo a luz, se apoderou de mim... Nele submergi.
Nada mais importava!!!
O fundo da escuridão era contrastado com membros prateados. Um rápido olhar garantiu a certeza de que refletiam uma luminosidade imemorial rebatida pela lua.
Flutuava sobre um lago escuro e repousava efemeramente sobre rochedos enfeitiçando os desavisados.
Teu cheiro de sopro marinho soldou minha memoria.
Contentei-me em contemplar, mares de tempo passaram-se... Contentei-me em tocar, cheirar... Por fim, amar!
Os sons ligeiramente roucos que fluíam de misteriosos lábios açoitavam minha serenidade.
Um oceano de doces palavras preenchiam minha mente.
Uma indescritível luz fazia casa no fundo dos teus olhos.
Viajei nas ondas que se deitavam preguiçosamente naquelas praias.
Já há muito tua alma me era conhecida.
Mas teu corpo mitológico, desta vez, me pareceu estrangeiro.
Diante da divindade limitei-me a cumprir promessas feitas em tempo anteriores à nossa existência.
Libertaste-me de uma prisão agradável. Mas como pássaro-menino, aprendiz da arte de amar, desequilibrei-me, caí no vácuo do espaço... Seus braços me guiaram até o teu longínquo olhar.
O sereno da noite tornava meu sonho, verdadeiro.
A umidade do espaço, à velocidade da noite, embaraçava minha visão.
Como sereia, ficavas mais bela refletida no fundo do lago de lágrimas que o vento criava em meus olhos.
Como massa de ar impelida por ação convectiva, levaste-me até a fonte da qual emanava a tua voz!
Frontalmente nos acomodamos!
Estacionariamente, produzimos chuvas!
Torrencialmente geramos tempestades!
As lesões serviriam, por séculos, de testemunhas do milagroso encontro.
Para sempre sentir-me-ei em sobrevivente de aventura impar... Queria, dela, nunca mais ter saído!
Depois de beijar minha ‘alma! Acariciar meu coração... Dissestes, ao meu ouvido: ADEUS!. Não mais nos veremos, a não ser que a morte te chame novamente... Somente... Assim..., poderei te guardar por mais uma noite!
Se esta for a condição para viver... Morrerei logo, então!
Morrendo... Estou... Contando o tempo que, inexoravelmente, me distancia do maravilhoso vivido.